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quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Frágeis edificações...


Eis que bons tempos se avizinham. Eis que o intragável segue com a aurora e novas possibilidades beiram a cogitação. Tu distas, por mais que teime qual criança contrariada, mimado que és.

Por favor, não esfaceles a minha redoma. Não pises no esmero que dediquei à sua lapidação. Ela é minha. Ela me mantém alheia aos seus desmandos. Seu prisma me faz conceber dias melhores em cujo alvorecer você será nada mais que banalidade pretérita.

Ah, teus instrumentos de tortura estão perdendo força aos poucos.

Se isso é bom? Creio que sim.

Admito que por vezes hesitei em dar-te como morto. E que ainda me assombra a imagem dos cacos por sobre o meu tapete cor-de-rosa com bolinhas amarelas (o tapete é meu...)...

Viver dói um bocado. Parafraseando o nobre vulgo, "a vida é aprendizado". É pena ainda não ter me ajustado à crueza das palmatórias.

Quiçá um dia!

Mas não esqueças da redoma. Vê bem onde pisa.

sábado, fevereiro 17, 2007

Quanto riso, ó quanta alegria!


... Mais de mil palhaços no salão...

Bom carnaval!

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Paradoxos inefáveis (ou ensaio sobre o silêncio)


Meus sentimentos agora atravessam um episódio psicótico sem precedentes. Amo e odeio na mesma medida...
Rancor e saudosismo. Raiva e penar. Desprezo e consideração. Vivo num pêndulo sem fim.

Minhas vontades oscilam entre a hostilidade e a pureza do carinho mais sincero. Lembra?

[...]

Não sei mais.

Já dista o que você significou pra mim. Comigo, só lamentos. É verdade. Não há quem lamente mais que eu tudo isso. Você é a personificação do entrelaçamento entre o profano e o sagrado. Sim, você fora sagrado.

Hoje não mais sei.

[...]

Se me fosse concedido algum poder sobrenatural, elegeria o que me permitisse riscar as nulidades mnemônicas auto-biográficas. Você é uma delas. Você, com sua irracionalidade animalesca. Você, outrora luz, e agora habitante dos confins abissais da minha existência errante. Você, que turva meus pensamentos e me estagna num passado disfuncional. Você.

Resolvi calar-me, em nome da minha integridade mental. Por mais que meu "ego" me contradiza, gostaria que você acompanhasse meu silêncio. É tudo pura maldade?
Admitamos. Já não somos fontes mútuas de benesses "like before".

Mais do que nunca, lanço um decreto: hora de virar a página e reparar danos. Colocar-te no retrovisor da minha vida. Esperar que minha trilha dite as perspectivas das quais te enxergarei no futuro.
Hoje chove, e você é uma mancha perdida entre os pingos por sobre o espelho.
Você, operário das ruínas. Você, o vil.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Amém

((O Teatro Mágico)

Composição: Fernando Anitelli

Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... ]
[ nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas...

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Mono-tonia

Numa das minhas divagações, flagrei-me pensando no "marasmo atribulado" desse início de ano. Em retrospecto, constatei que o universo, ao longo da vida de um individuo, metamorfoseia-se de um grande e colorido caleidoscópio para um envolvente e corrosivo gris, de tal modo a nos consumir com trivialidades e mesmices cíclicas e fazer vir à tona a babaquice das querelas existenciais.

Mono-tonia: mono = um, e tonia = sufixo relativo à cor, tonalidade. Uma só cor, um só tom. Constatação idiota, eu sei, mas, contextualmente falando, adquire o sabor de um insight quase orgásmico.

Então... Hoje o mundo é cinza. Os balões dos aniversários são absurdamente incolores, presentes não trazem mais a torturante ansiedade da iminência do rasgar do embrulho, o Papai Noel não mais empresta cor à véspera de Natal, a piscina de bolinhas não é mais a mesma, o coelho da Páscoa embranqueceu de fato e o clube da Caixa não mais me provoca irradiante alegria. Os sanduíches da Pittsburg, a raspadinha de groselha, o brigadeiro de panela, a gelatina de framboesa e o bolo de chocolate da minha mãe seguem nesse paulatino desbotar, e eu sigo me indagando acerca do paradeiro dos "sine qua nons".


Subitamente, parece que tudo sumiu.

Minhas lentes encontram-se distorcidas? Ou será que exijo demais dessa existência grisalha? Será que apenas eu padeço desse mal?

Queria realmente acreditar que "com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo"..."



"Perco a identidade do mundo em mim e existo sem garantias. Realizo o irrealizável, mas o irrealizável eu vivo e o significado de mim e do mundo e de ti não é evidente. É fantástico, e lido comigo nesses momentos com imensa delicadeza. Deus é uma forma de ser? É a abstração que se materializa na natureza do que existe? Minhas raízes estão nas trevas divinas. Raízes sonolentas. Vacilando nas escuridões."

Clarice Lispector - Água Viva.


Será que alguém tem lápis de cera coloridos pra me emprestar? (...)