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quarta-feira, julho 11, 2007

Doces tragédias


Tem dias que já nascem como um prenúncio de fracasso estelar.

Chuva. Despertador às seis. Função "soneca". Dez minutos de concessão. Vinte. Triiiiinta.

Ops!

A p**** do chuveiro elétrico não tá funcionando. A pasta de dente, outrora inofensiva, agora lhe causa uma alergia horrenda. Não tem pão pro café (e se tivesse, você não teria tempo de comê-lo). E todo o resto não lhe apetece.

Isso sem falar no imbecil a 20km/h na faixa da esquerda, na velhinha da frente da fila do caixa eletrônico (que sempre esquece as letras de acesso), e na repentina descoberta de que sua conta está a anos-luz do saldo positivo. Ó céus!

Cólica menstrual, afazeres maçantes, preguiça a corroer os confins mais recônditos da alma, e uma vontade irrepreensível de jogar tudo pros ares e viver como monja no Tibete.

Mas, opa!

Não é que a vida é até engraçada?

Tudo se torna mais doce quando se aprende a chacotear as singelas comédias privadas de cada dia.

Somente após intensos exercícios de ascese espiritual você se torna capaz de enxergar que a demora do ônibus te proporciona mais tempo contemplando o comportamento humano. E que, se por alguma gozação do destino, o motorista ignorar solenemente a sua existência, você disporá de mais "linhas-fúteis-de-livros-fúteis-de mulherzinha" lidas (essa é a parte que mais gosto. A propósito, leiam "Melancia", de Marian Keyes).

Viver é doce. Às vezes é só algodão, mas ainda apto a ser encarado com doçura. O fundo do pote sempre pode camuflar uma tímida migalha cristalina, discreta como o quê.

[...]

O que seria de nossa estadia terrena, não fossem as agruras existenciais? O que seria do êxtase da felicidade, sem a paradoxal vivência dos desmandos adversos a que a vida nos condena?

Um bom roteiro não pode prescindir de uma pitada de dramalhão mexicano. Todos nós temos os nossos dias de Antonietas Helenas e Gabriéis Emerencianos.

Sim, eu sei que decepcionei, e mudei completamente o foco da história.
Escrevo pra mim, mesmo.

Tá olhando o quê?