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sábado, julho 21, 2007

Reticências


Não sei o que faço por aqui.
Escrevo-lhes (a quem mesmo?) motivada pelo ócio (grande paradoxo)...

De repente me vi pensando naquela baboseira de digestão do mundo.
Em que pese alguns avanços, ainda não consegui tragá-lo de maneira satisfatória. Sinto-me como uma criança, com reticências e interrogações pairando acima da cabeça a cada capítulo do meu dramalhão mexicano.

A vida é muito irônica (Chico foi muito feliz quando escreveu "Partido alto"). Deus deve mesmo assistir de camarote as comédias de nossas vidas privadas.

O grande fato é que com o tempo aprendemos a não duvidar das improbabilidades. Tudo é possível, e os absurdos vêm abundando vertiginosamente.

Exponencialmente...

Por um lado, ganhamos com isso a vantagem de minimizar decepções e não apostar tanto em quinquilharias. Por outro, perdemos a capacidade de nos surpreender, e tudo vai sendo tomado pelo gris dos amargos.

E o colorido caleidoscópio de nossos primeiros anos vai perdendo os seus matizes mais preciosos, levando consigo toda a graça que nos causava a insônia e ansiedade pelo raiar do Sol.

Lembro, como fosse hoje, das 9's de março, ou dos 11's de outubros. Lembro também de não querer dormir no dia 24 de dezembro, com medo de que uma piscadela me fizesse perder a oportunidade de ver o velho Nicolau. Mas aquele gatuno sempre era mais esperto que eu...

E hoje?

Eu sou feliz.
E amo.
Amo muito.

Mas temo.

Tenho medo do cinza.

Tenho medo da ameaça nuclear iminente que pulula nos seres humanos.