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segunda-feira, outubro 29, 2007

Mensurações


Eu quero de um tudo.

Nem pouco, nem muito.

Tampouco quase nada.


Quero as ínfimas partes do quase-tudo.

Até quase-tudo mimetizar-se em quase nada.


Não quero brioches.

Nem pão dormido.

Não quero erudição.

Nem rimas pobres.

Não quero um do Porto.

Nem leite com soda cáustica.


Quero de um tudo.

Em paradoxal iminência.

Às vezes, tudo.

Nem sempre quase.


Quero de um pouco em um tudo.

Um muito em quase-pouco.


Nem pouco, ou quase-pouco.

Beirar o quase tudo do quase nada.


Mas, de tudo, quero um pouco.

Um tudo, em doses homeopáticas.


[...]


Não te quero em conta-gotas.

Quero tu, em um tudo.

Tu, em um muito.

terça-feira, setembro 25, 2007

Deus e o verbo


(...)

No inicio era o verbo...

E o verbo era Deus...

E o verbo estava com Deus,

E já não eram sós , ambos conjugavam-se entre si,

Discutiam quem seria a primeira e a segunda pessoa,

Quem era verbo...

Quem era Deus,

A ação e a interpretação...

Quem era a parte e quem era o todo.

Deus

(O pai, o filho e o espírito santo),

Era também o verbo

(regular e irregular)

E todos questionavam-se sobre quem seria o sujeito

E quem seria o predicado,

Quem se conjugaria no pretérito e quem renunciaria

À forma "mais que perfeita"!


Deus era o verbo e o verbo era Deus,

Conjugavam-se de maneira irregular...

Explicitando suas diferenças,

Reconhecendo os fragmentos e os complementos

Buscavam a medida certa

E, assim,

Reconheceram-se uno...

Eu deus, tu deus, ele deus, nós deus, vós deus... eles deus

Somos dotados deste curioso poder,

Mudamos nosso significado, nosso signo,

Nosso comportamento e nossos conceitos

(que por sua vez chegam ate nós depois de se modificarem muitas e outras vezes!)

Temos uma ferramenta e tanto nas mãos,

E nos pés...

Temos acorrentados nossos motivos de sobra pra relaxarmos

E acomodarmos com a vida que levamos agora...


(...)



(O Teatro Mágico!)

domingo, setembro 09, 2007

Onze dias



Eu descobri um mundo teu
E ele é manso
Sem perceber tive paz
E só me dei conta

Quando eu te vi e perguntei como é que vai você

"Tudo bem?"

Falta entender o que me faz
Pensar que só ela pode ter tanta paz pra me dar
Ninguém mais tem tanta paz

Eu te vi e cheguei pra falar

"Certinho?"

(Rodrigo Amarante)

quinta-feira, agosto 30, 2007

Medéia


Medéia era uma menina estranha.

Tinha um nariz esquisito, e olhos que não lhe caíam bem.

Mal sabia se ajeitar, coitada!

[...]

Vivia sob uma redoma hermética, que a protegia da hostilidade do mundo. Tudo lhe era percebido com estranheza desde tenra idade. Sempre acreditou que esse estranhamento passaria com os anos. Mas seu caleidoscópio sensorial continuou meio esquizofrênico.

Medéia gostava de mergulhar em si mesma de vez em quando. Não que isso fosse incomum, mas chegava por vezes a experimentar verdadeiros estados de fluxo introspectivos.

A aleatoriedade da vida lhe despertava incômodo e fascínio. Mas não despendia muito tempo com arroubos filosófico-ontológicos. Apenas se saber resultado de gametas vitoriosos lhe bastava.

Não tinha paciência, pobre Medéia.

Na verdade, ela nem se preocupava muito com fluxo, sentido e direção. Perambulava, desviava se necessário fosse, dobrava esquinas se a chamassem (ou se não se sentisse inconveniente), driblava as divisórias da calçada, parava ao olhar uma capa de revista na banca, ou ao ouvir erroneamente seu nome lhe sussurrar aos ouvidos.

Mas nunca soube o que queria, pobrezinha!

Medéia costumava falar pouco. No entanto, se entregava à tagarelice quando sentia alguns formigamentos na alma. Atropelava-se nas palavras, e elas a engasgavam a ponto de não haver coesão suficiente e seu discurso beirar o aramaico. Começava frases sem saber realmente onde queria chegar, ou que palavra sentenciara primeiramente.

As conversas ao redor lhe pareciam discos arranhados. Nunca conseguia se encontrar, nem localizar em seu intrínseco motivação para se engajar num papinho interessante. Às vezes, forjava resquícios de interesse, mas sua fugacidade mental não lhe permitia ouvir sequer as horas questionadas em segundos anteriores.

A vida não lhe despertava curiosidade.

Pobre Medéia.

A menina não tinha tempo nem pra se enfurecer com as coisas. Aliás, lhe faltava um pouco de discernimento acerca das concepções socialmente arraigadas dos absurdos.

Inventava ela mesma seus próprios absurdos.

Em sua parca existência, amargou alguns reveses amorosos (e se envolveu com uns tipinhos sobremaneira excêntricos). Ainda assim, podia ser flagrada em meio a devaneios e pieguices esdrúxulas, e chegar à iminência das lágrimas com um desfecho insosso de folhetim novelesco.

Medéia nunca se sentira plenamente. E essa sensação de incompletude lhe era desconcertante.

Pobrezinha.

A menina era uma sucessão de estados de espírito transitórios. Às vezes sentia como não lhe coubesse a alma em tão ínfima estatura. Tudo lhe parecia transcender e inundar o seu marasmo auto-biográfico.

Era de fato um amontoado difuso de vícios, manias e exercícios ritualísticos inúteis. Um emaranhado de ímpetos hedonistas. Um sem-número de corruptelas inadmissíveis ao travesseiro. Um turbilhão psico-afetivo, revestido de culposa ingenuidade, por assim dizer.

Medéia era. Ou, quem sabe, nem quisesse ser.

.

.

.

Não sabia.

[...]

Ou talvez não soubesse dizer.


sábado, agosto 25, 2007

Tarde vazia


"
Pela janela
Vejo fumaça
Vejo pessoas...

Na rua os carros
No céu o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia...

Você me ligou
Naquela tarde vazia
E me valeu o dia

(...)

"

(
Scandurra e Gaspa)

sexta-feira, agosto 17, 2007

Outrora


Tem sido prazeroso ver o ontem virar outrora.

A visão retrospectiva dos fatos os torna banais a ponto de questionarmos seu significado pretérito.

É como se "de cima da pedra" as coisas perdessem o sentido e as repercussões.

O ontem só faz sentido ontem.

E o hoje só se faz idôneo mediante o agora (aquele, efêmero).

As lágrimas, os risos, os sabores.

Os desafios. As vitórias. Os cheiros. As decepções.

Metas. Amigos. Amores.

[...]

Às vezes, o outrora vira saudade.

E saudade se sente do que não se fez outrora.

[...]

Outrora é memória.

Outrora é pretérito.

Outrora é luz.

Outrora é treva.


[...]

O outrora é âmago inóspito.

Outrora é vida.

Vida, por vezes inóspita,

E, de repente, vira outrora.

A fé solúvel


É, me esqueci da luz da cozinha acesa
de fechar a geladeira
De limpar os pés,
Me esqueci, Jesus!

De anotar os recados
Todas janelas abertas,
onde eu guardei a fé... em nós

Meu café em pó solúvel
Minha fé deu nó
Minha fé em pó solúvel

É... meu computador
Apagou minha memória
Meus textos da madrugada
Tudo o que eu já salvei

E o tanto que eu vou salvar
Das conversas sem pressa
Das mais bonitas mentiras

Hoje eu não vivo só... em paz
Hoje eu vivo em paz sozinho
Muitos passarão
Outros tantos passarinho

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça-me um favor

Um favor... por favor

A razão é como uma equação
De matemática... tira a prática
De sermos... um pouco mais de nós!

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça-me um favor

Um favor... por favor


(O Teatro Mágico)

sexta-feira, agosto 10, 2007

Nostalgia


E eis que tu me surges.

Num fim de noite que tinha tudo para ser varrido dos meus confins hipocampais, sem estrondos ou resquícios semânticos de qualquer natureza.

E tu me surges.

Com despretensão ímpar, olhar penetrante, sorriso cativante, e semblante que transluzia uma avidez por "sabe-se-lá-o-quê".

E tu me surges.

Vestindo trajes de gala, aproximando-se em câmera lenta. A um close nos olhares patéticos, os créditos iniciam uma subida triunfal (estaria eu em Hollywood?)..

E tu me surges.

Faz tempo, não?

Bastante tempo.

Nunca me senti tão Jones na minha vida. Sim, um tanto quanto loser. Um tanto quanto ambivalente, um tanto quanto inerte. Totalmente inerte.

E tu, em teu melhor estilo Cleaver.

Sagaz. Larápio.

Desenvolto com as palavras, bem-humorado. Astuto ao relatar nossos registros mnemônicos mais significativos.

É, tu me surges.

Se eu fosse Cinderela, diria que o encanto fora quebrado a meia-noite e eu partira numa carruagem dourada (displicentemente deixando cair um de meus sapatinhos de cristal) , em seguida dormindo como um anjo, e acordando pensando em você.

Mas, como não acredito em contos-de-fada, nem em encantos, maçãs venenosas e varinhas de condão, diria apenas que...

Não, eu realmente não saberia o que dizer...


Er...


Foi muito bom esbarrar com você, Cleaver.

Prometo, na próxima, ser menos Jones.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Por quê(s)...


Por que os fins-de-semana são tão efêmeros?
Por que bolo de chocolate sempre acaba?
Por que as jujubas do pacote não são todas vermelhinhas (e por que quando se oferece a alguém,elas sempre estão em cima?)?
Por que os amores não duram pra sempre?
Por que não duramos pra sempre?
Por que doce engorda?
Por que a vida não tem a opção "rewind" dos vídeo-cassetes?
Por que Friends acabou?
Por que 24h são sempre insuficientes pras nossas pendências cotidianas?
Por que, uma vez perdida, a noção pueril de mundo jamais retorna?
Por que a inocência se esvai com o tempo?
Por que os seres humanos cada vez mais aprimoram a capacidade de ferir?
Por que aquela pessoa nunca está no MSN?
Por que você nunca esbarra com ela na fila do pão?
Por que ela só aparece quando você está fantasiada de mocréia?
Por que o pacote de Bono acaba?
Por que os mocinhos viram vilões?
Por que o lado da manteiga sempre cai virado pro chão?
Por que as caixas de lápis de cor sempre vêm com um branco?



(...)

Por que eu não consigo esquecer o seu perfume?
Por que carrego de ti tamanha bagagem semântica?

(...)

Por que?




PS: "...you're the only one who can turn me back on..."

quinta-feira, agosto 02, 2007

Turn me on



Não suporto mais paisagem de trânsito lento.

Será que você é incapaz de frustrar minhas previsões?



(abre aspas)

My hi-fi's waiting for a new tune
The glass is waiting for some fresh ice cubes

(fecha aspas)


domingo, julho 22, 2007

Santa Chuva


(ele)

Vai chover de novo
Deu na TV
Que o povo já se cansou
De tanto o céu desabar
E pede a um santo daqui
Que reza a ajuda de Deus
Mas nada pode fazer
Se a chuva quer é trazer você pra mim
Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar
Não faz assim
Não vá pra lá
Meu coração vai se entregar
À tempestade...

(ela)

Quem é você pra me chamar aqui
Se nada aconteceu?
Me diz?
Foi só amor? Ou medo de ficar
Sozinho outra vez?
Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem...
A chuva já passou por aqui
Eu mesma que cuidei de secar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha TV
Que eu vou de vez
Não há porque chorar
Por um amor que já morreu
Deixa pra lá
Eu vou, adeus
Meu coração já se cansou de falsidade...

(Marcelo Camelo)

sábado, julho 21, 2007

Reticências


Não sei o que faço por aqui.
Escrevo-lhes (a quem mesmo?) motivada pelo ócio (grande paradoxo)...

De repente me vi pensando naquela baboseira de digestão do mundo.
Em que pese alguns avanços, ainda não consegui tragá-lo de maneira satisfatória. Sinto-me como uma criança, com reticências e interrogações pairando acima da cabeça a cada capítulo do meu dramalhão mexicano.

A vida é muito irônica (Chico foi muito feliz quando escreveu "Partido alto"). Deus deve mesmo assistir de camarote as comédias de nossas vidas privadas.

O grande fato é que com o tempo aprendemos a não duvidar das improbabilidades. Tudo é possível, e os absurdos vêm abundando vertiginosamente.

Exponencialmente...

Por um lado, ganhamos com isso a vantagem de minimizar decepções e não apostar tanto em quinquilharias. Por outro, perdemos a capacidade de nos surpreender, e tudo vai sendo tomado pelo gris dos amargos.

E o colorido caleidoscópio de nossos primeiros anos vai perdendo os seus matizes mais preciosos, levando consigo toda a graça que nos causava a insônia e ansiedade pelo raiar do Sol.

Lembro, como fosse hoje, das 9's de março, ou dos 11's de outubros. Lembro também de não querer dormir no dia 24 de dezembro, com medo de que uma piscadela me fizesse perder a oportunidade de ver o velho Nicolau. Mas aquele gatuno sempre era mais esperto que eu...

E hoje?

Eu sou feliz.
E amo.
Amo muito.

Mas temo.

Tenho medo do cinza.

Tenho medo da ameaça nuclear iminente que pulula nos seres humanos.

quarta-feira, julho 11, 2007

Doces tragédias


Tem dias que já nascem como um prenúncio de fracasso estelar.

Chuva. Despertador às seis. Função "soneca". Dez minutos de concessão. Vinte. Triiiiinta.

Ops!

A p**** do chuveiro elétrico não tá funcionando. A pasta de dente, outrora inofensiva, agora lhe causa uma alergia horrenda. Não tem pão pro café (e se tivesse, você não teria tempo de comê-lo). E todo o resto não lhe apetece.

Isso sem falar no imbecil a 20km/h na faixa da esquerda, na velhinha da frente da fila do caixa eletrônico (que sempre esquece as letras de acesso), e na repentina descoberta de que sua conta está a anos-luz do saldo positivo. Ó céus!

Cólica menstrual, afazeres maçantes, preguiça a corroer os confins mais recônditos da alma, e uma vontade irrepreensível de jogar tudo pros ares e viver como monja no Tibete.

Mas, opa!

Não é que a vida é até engraçada?

Tudo se torna mais doce quando se aprende a chacotear as singelas comédias privadas de cada dia.

Somente após intensos exercícios de ascese espiritual você se torna capaz de enxergar que a demora do ônibus te proporciona mais tempo contemplando o comportamento humano. E que, se por alguma gozação do destino, o motorista ignorar solenemente a sua existência, você disporá de mais "linhas-fúteis-de-livros-fúteis-de mulherzinha" lidas (essa é a parte que mais gosto. A propósito, leiam "Melancia", de Marian Keyes).

Viver é doce. Às vezes é só algodão, mas ainda apto a ser encarado com doçura. O fundo do pote sempre pode camuflar uma tímida migalha cristalina, discreta como o quê.

[...]

O que seria de nossa estadia terrena, não fossem as agruras existenciais? O que seria do êxtase da felicidade, sem a paradoxal vivência dos desmandos adversos a que a vida nos condena?

Um bom roteiro não pode prescindir de uma pitada de dramalhão mexicano. Todos nós temos os nossos dias de Antonietas Helenas e Gabriéis Emerencianos.

Sim, eu sei que decepcionei, e mudei completamente o foco da história.
Escrevo pra mim, mesmo.

Tá olhando o quê?

terça-feira, julho 10, 2007

Separô


Separô toda minha correria
Separô o joio do trigo e da padaria
Separô diante de mim quando minha tristeza era parte do dia
Separô Dona Beleza de Dona Maria

Separô o que não restava do que já não tinha
Separô diante minha palavra e se fez poesia
Separô pra ouvir meu protesto, meu gesto que incerto, ]
[ talvez não faria
Separô o silêncio da dor me trazendo alegria

Separô pra pensar no que a gente faria
Se não houvesse a poesia
Se não restasse farinha pro nosso pão!

Iria só até o fim
Daria tudo e mais um pouco de mim
Separa um tanto, que o outro eu te dou
Separa a chuva pra continuar flor!

(Fernando Anitelli)

sábado, junho 23, 2007

The wheels just keep on turning...

Sempre achei que careci do "elan" vital que abundava nos seres humanos ditos normais. Por vezes me senti indisposta pra vida. Receava sucumbir ao que chamo de "síndrome macabéica" (Macabéa sempre me assustou por sua "incompetência para a vida", por lhe faltar o "jeito de se ajeitar", e principalmente, por "só vagamente tomar conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma"). Eu me sentia um pouco assim.

Meus 21 anos foram vividos à mercê dos acasos, mesmo que perfeitamente mimetizados em impecáveis eixos. Nunca planejei etapas ou segui metas pré-estabelecidas. Sempre me achei diferente demais e, nos "anos dourados" da minha adolescência, julguei que melhor seria se eu me adaptasse ao entorno a buscar o desconhecido (a minha pedra angular). Maldita seja a "idade das trevas" do desenvolvimento.

Hoje não. Acho que finalmente esbarrei comigo mesma... Foi um encontro meio conturbado, devo admitir. Precisei que uma bigorna se espatifasse na minha cabeça pra que meu "elan" aflorasse.


E, não mais que de repente: "Ei, bicho... Você por aqui? Jamais esperava te encontrar nesses arredores... Por onde andou por todo esse tempo? Vamos sentar e tomar umas! Me conta as novas! "

E ei-la aqui. Munida de todo um arsenal identitário. Sangue nas veias, algumas mini-certezas e objetivos modestos, alguns escudos, alguns medos... O sabor dessa ciência é de uma singularidade tal que me proporciona uma constante ansiedade por descobrir mais e mais em meu âmago a cada nova experiência.

Hoje sei o que vejo no espelho do banheiro (nos outros também). Tenho alguma noção de que se debruça sobre o travesseiro. Consigo captar as configurações das minhas gestalts, e me enxergar holisticamente, para além de alguns caquinhos que acumulei.

Todas as agruras, adversidades e dissabores tiveram razão de ser. Agradeço, oficialmente, aos seus protagonistas. Agradeço também aos que têm tornado os meus dias significativamente mais doces.


Saúdo aqui os afrescos do meu atual retrovisor.

Que já distam.


E só um PS:


Toda essa história me remeteu à Gestalt, especificamente a um trecho de um texto que fui obrigada a ler nos idos do corrente semestre:


"...compreender e aprender, mas sobretudo experimentar, para alargar ao máximo o nosso campo vivido e nossa liberdade de escolha... [...] ...estar atento ao fluxo permanente de minhas sensações físicas (exteroceptivas e proprioceptivas), de meus sentimentos, de tomar conhecimento da sucessão ininterrupta de 'figuras' que aparecem no primeiro plano, sobre o 'fundo' constituído pelo conjunto da situação que vivo e da pessoa que sou, no plano corporal, emocional, imaginário, racional ou comportamental..."



É viver, no sentido mais estrito da palavra.



Sem mais...

terça-feira, junho 19, 2007

Poeminha Sentimental


O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(Mário Quintana)

quinta-feira, junho 14, 2007

'til kingdom come...



Steal my heart... and hold my tongue
I feel my time... my time has come
Let me in... unlock the door
I never felt this way before

And the wheels just keep on turning
The drummer begins to drum
I don't know which way I'm going
I don't know which way I've come

Hold my head... inside your hands
I need someone... who understands
I need someone... someone who hears
For you I've waited all these years

For you I'd wait... 'Til Kingdom Come
Until my day... my day is done
and say you'll come... and set me free
just say you'll wait... you'll wait for me

In your tears... and in your blood
In your fire... and in your flood
I hear you laugh... I heard you sing
I wouldn't change a single thing

And the wheels just keep on turning
The drummers begin to drum
I don't know which way I'm going
I don't know what I've become

For you I'd wait... 'Til kingdom come
Until my days... my days are done
Say you'll come... and set me free
Just say you'll wait... you'll wait for me

Just say you'll wait... you'll wait for me
Just say you'll wait... you'll wait for me

sexta-feira, junho 08, 2007

Sobre seres humanos e garrafas PET

Enfim, o que é ser? Como abordar essa etérea inefabilidade? Ultimamente tenho tido dúvidas acerca do valor de ser o que somos. Apenas carbono e amoníaco? Bah. Talvez menos.

Tomemos por exemplo uma garrafa PET. Múltiplas facetas. Múltiplas utilidades. Versatilidade. Não mais descartável. Não em tempos de aquecimento global.

E nós? Um amontoado de células, rodeado por milhares e milhares de outros amontoados de células. Além, é claro, de um "telencéfalo 'altamente desenvolvido' e um polegar opositor" (tenho minhas reservas quanto aos méritos do telencéfalo, mas não é este o caso).

Hoje não mais somos. Ou somos, mais uma vez (e mais uma vez). Feitos de papel manteiga, de tão facilmente perecíveis. Merecemos tal sorte? Talvez.

Mas ainda acredito na preciosidade semântica das pequenas coisas. Na singularidade de um sorriso. Na doçura de um olhar. Na singeleza de um abraço. Na certeza de reciprocidade da afeição fraternal.

Sou adepta do seguinte axioma: o que nos faz essencialmente humanos é a capacidade de significar e sentir. Acho, de fato, que estamos deixando de ser humanos... Ou temos esquecido de sê-lo.

[...]

Espero que provisoriamente.

domingo, maio 13, 2007

À flor da pele


Não sei se TPM. Não sei se sintomas da minha fiel "ciclo(dis)timia". Não sei se vestígios de um passado que não se quer fazer remoto. Eu realmente não sei.

O fato é que ando meio à flor da pele. Culpa de Norah Jones, talvez. Ou da bucólica paisagem do caminho diário para o trabalho. Quem sabe até da própria rotina, que não tem me proporcionado atribulações intrinsecamente motivadoras.

Tudo tem me tocado de uma maneira ímpar. É como se de repente minha sensorialidade se exacerbasse, e cada mínima partícula da minha casca de noz tomasse proporções estratosféricas.

Sinto-me no império das sensações, no sentido mais estrito da palavra.

Uma rosa. Uma folha. Um risinho tímido. Uma lembrança de retrovisor. Um beijo de novela. O vento na cara. Um acorde de violão. Uma música. Um abraço. Êxtase. Pele. Flor.

[...]

Você, em seu estado de pulverização contínua.

Nesta era sensorial, careço de inspiração. O atual estado de fluxo me mantém em constante torpor.

Ausência.



[...]




Pele e flor.

Lonestar


Lonestar

(Norah Jones)

Lonestar where are you out tonight?
This feeling I'm trying to fight
It's dark and I think that I would give anything
For you to shine down on me

How far you are I just don't know
The distance I'm willing to go
I pick up a stone that I cast to the sky
Hoping for some kind of sign

sexta-feira, maio 04, 2007

Sobre a Homeostase


Resolvi deixar estar.

Relegar às vicissitudes mundanas o desdém que merecem.

Afinal, pra quê?

Tudo tende à homeostase? Creio que não.
Existe algo mais aleatório que a vida, esta sucessão de "improbabilidades"?

Deixo estar,então.

Declaro-me a partir desse instante sob a égide dos acasos.

Não espero mais. Não ligo mais. Não jogo na mega sena. Não procuro mais pela figurinha número 1 do álbum.

Enfim, pra quê?

Se tudo tende ao caos, por que me apegar à ilusão das expectativas?

Se tudo é efêmero...

Só deixo estar.





"Let her get on with life/
Let her have some fun"




terça-feira, abril 10, 2007

Efemeridades


Tenho me apegado às minuciosidades dos pequenos prazeres.

Não há nada que se compare a cantarolar ao chuveiro, passar horas jogando conversa fora, assistir desenho animado, meter a cara no chocolate, passar horas resolvendo sudoku, matar aula, fazer as vezes de garota desbocada, falar muito, dormir muito, monopolizar conversas, gritar "It must have been love" e "Linger", embasbacar-me com a distribuição gratuita de simpatia do cobrador do 26, procurar vídeos engraçados no You Tube, cagar pra prova do dia seguinte, comer Bifum, cometer alguns desatinos consumistas, chorar quando inevitável for, passear no supermercado pra não perder a noite, dançar forró, esbarrar "acidentalmente" no carinha do barzinho, assistir Men in Trees (e cogitar a possibilidade de arrumar as malas e mudar para Elmo), rever episódios de Friends, escutar Coldplay e Los Hermanos sem querer me atirar da passarela, almoçar em família aos domingos, protelar inadvertidamente compromissos, entre outras cositas más.

Pequenos atos que têm enriquecido meus dias. E tudo isso tem um sabor inenarrável. Essa pequenas preciosidades guardam em seu íntimo uma singeleza sem igual, distando-me dos meus tormentos e dos ínfimos pontos do horizonte do retrovisor.

Viver até que tem sido uma aventura interessante. O que de fato nos ofusca é o passado e o futuro. O primeiro atormenta com os dissabores do que "foi-e-não-deveria-ter-sido", e do que "deveria-ter-sido-e-não-foi". O último nos assombra pela imensa gama de possibilidades que nos escancara (ou pela falta delas).

O presente é o que realmente importa. Dançar conforme a música e não ficar devaneando sobre o sentido da vida, sine-qua-nons, destino, xamãs, chacras e incertezas vindouras não faz bem, definitivamente.

O agora, instante efêmero. O agora, paradoxalmente tangível e intangível. O agora que tão logo se tornará insondável.

É agora.

E logo mais, será paisagem de retrovisor.

Que me venham belos afrescos.

sexta-feira, março 30, 2007

Diário de uma ciclotímica II


Porque essa foi uma semana incomum.

Chorei, senti...
Mandei mensagens no tardar da madrugada. E acordei. E dormi, de novo. Sonhei. Perambulei.

Bebi, conversei horrores (da cotação do dólar ao sexo dos anjos). "Irresponsabilizei-me" por minha ventura incerta.
Senti-me pequena diante de mazelas que me bateram à janela.

Desfrutei da inutilidade que geralmente me assola a alma por alguns minutos.
Pude tragar alguns dissabores e desfrutar do mais divino manjar da vida em questão de horas, de minutos. Mas vivi.

E senti minhas veias em atividade. Senti você, "dessenti" você. Sentimentos e ressentimentos.

E nesse sentir-ressentir, acalmei-me.

Calei-me.


E dormi.