Tenho problemas de inspiração. Nenhum surto registrado de duas semanas pra cá. Isso deve ser bom.
É uma sensação meio ambivalente. O mal-estar nosso de cada dia torna essa página mais recheada das minhas quinquilharias.
Eu estou bem. Acho que estou bem. Mas às vezes é como se precisasse recorrer à rituais de mutilação para crer-me acordada (somente beliscar é insuficiente)...
... Peraí...
... Eu estou bem, mesmo.
Devo admitir que as pequenas idiossincrasias da nossa história ainda subjazem pulverizadas em cada pequena atitude, em cada gesto, em cada expressão, em cada onomatopéia infundada, em cada sacada no espelho e naquela roupa que você dizia gostar, em cada trecho do filme que vimos juntos, em cada nuance da mudança de visual que recentemente ensaiei, na pasta de fotos que cruza o meu caminho quando busco um documento qualquer... Elas estão aí, fato incontestável.
Por outro lado, chovem confetes quando constato a minha atual não-submissão aos seus "desmandos metafísicos". Seus atos despóticos não mais me mobilizam, como não o fazem as suas ligações e mensagens despropositadas no fim do dia. Você está na iminência da preterição (ato ou efeito de preterir; tornar pretérito; resguardar à sombriedade do passado; relegar ao vértice inferior do retrovisor). Sinto-me bem.
Hoje consigo me concentrar no que vale a pena. Consigo focalizar alguns parcos objetivos funcionais e conceber um futuro de alheamento total à você. Consigo resgatar relevância naquilo/queles que merecem tal atribuição. Sou capaz de me dar novas chances e respirar novos ares. E, acima de tudo, sou capaz de não me consumir de remorso ou resquícios de decepção ao designar mentalmente a sua figura patética, e vislumbrar a extração de algum benefício desse enredo mirabolante.
No mais, os dias transcorrem normalmente, repletos de atribulações divertidas. A adultez ainda me é estranha, acho que vou estar sempre na transição entre as alegorias do "Palhaço Pudim" e a sobriedade monótona da vida, "como ela é".
E, parafraseando o principezinho,
"-Desenha-me um carneiro."
[...]
Que os baobás não se proliferem!