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quinta-feira, janeiro 25, 2007

Relicário de ninharias

Minha assiduidade no mundo "blogal" não tem sido das mais exemplares. Curiosamente, escrevo melhor quando em crise. Talvez seja um sintoma compensatório de uma infância vivida na ausência de um amigo imaginário, cujas vezes essa página tem feito. Escrevo pra ninguém, mesmo...
Não, o tom dos últimos posts não eram gratuitos, nem delírios de uma mente distímica, ou adolescente esquizóide ouvinte de Radiohead. Oscilações hormonais bruscas e resquícios de mal-fadados tempos têm ditado estas linhas que lhes são apresentadas... Espero que apenas a TPM prossiga com sua religiosa periodicidade.
Dias tranquilos, pseudo-férias, discretas perspectivas profissionais (ao menos existem), pendências auto-estabelecidas, resoluções adiadas indefinidamente... É... Infelizmente a vida ruma à complexidade, e gozar das férias passa a ser um luxo cada vez mais esparso.
O vazio e a ânsia difusa só me corroem a alma vez por outra, e os significantes não têm atingido proporções suficientes para fixação a longo prazo... Sinto dores de vez em quando. Mas a alma possui receptores nociceptivos?
É bem triste imaginar que o esquecimento dos últimos 120 dias não ocorrerá seletivamente, com prévia filtração das discretas benesses que me foram apresentadas. Mas sinto que, apesar da discrição ímpar, elas tiveram razão de ser, e nem que seja em confins inconscientes, suas especificidades e sorrisos proporcionados terão lugar em meu velho relicário....
Falando nele, coitadinho, tem sofrido bastante. Passou por uma grande faxina nos últimos meses. Sempre tive dificuldade em me desfazer dos meus entulhos e quinquilharias e, confesso, foi uma assepsia custosa, dado o avançado estado de decomposição de alguns itens. Mas logo, logo ele se restabelece, e prepara as honras para receber novos inquilinos.
Tragar o mundo, objetivo cada dia menos tangível...
E, novamente, durmo enquanto espero.
O inimaginável.
O absurdo.
Meus "sine qua nons".

domingo, janeiro 21, 2007

Doces insights

Eis que, repente e paulatinamente, como naqueles arroubos surreais de inspiração, tudo dramaticamente começa a fazer sentido.

Aquela aproximação repentina não era de todo despropositada. "Vamos comprar presentes de Natal?"; "Vamos comemorar o aniversário da minha mãe?", convites ungidos da mais pura inocência, são colocações nas quais, transcendendo-se-lhes a peculiar singeleza, subjazem os mais profanos dos instintos humanos (os psicanalistas que me perdoem)...

Não dizem mesmo que tudo na vida tem seu propósito?

Provocar. Essa é a palavra.

Provocar alguém que perderia o chão em conceber a concatenação de dois mundos tão cuidadosamente resguardados em suas singularidades. Entranhar-se nas trincheiras inimigas buscando uma aproximação periclitante a tais olhos. Proporcionar as inquietações mais recônditas n'alma covarde do vil...

Entrelaçamento de enredos macabros, de difícil digestão (escrevo-lhes tomada por profunda náusea). Não seriam os mesmos dignos dos clássicos folhetins mexicanos?

Inocência? Talvez.
A ingenuidade é um atributo humano intrinsecamente efêmero.
Lindo na puerícia. Devastador no passar dos anos.

Os sociopatas estão por toda parte. Eu temo pela minha integridade mental.

Tic. Tac. Tic. Tac.

sábado, janeiro 20, 2007

Despotismo Hormonal Crônico

Cheguei à conclusão de que padeço de Despotismo Hormonal Crônico.

Meus dias têm sido ditados pelo bel prazer da salada endócrino-psicótica em que se transformou o meu organismo... Até mesmo a presença metafísica do vil e o peso da bigorna têm sofrido os desmandos destes famigerados mensageiros químicos... Maldita seja a duplicação do cromossomo X (eu costumava detestar biologia e seus correlatos, mas ela tem se saído uma matéria-prima literária razoável)...

Ainda me causa imenso pasmar o poderio desses "caras"... É como se acordassem irritadiços e, prontamente, decretassem: "Hoje estou a fim de levá-la a um tour no subsolo do fundo do poço". E realmente o fazem com uma excelência inigualável (não tem divã que dê jeito, "nem amigo do peito que segure o chororô")...

Os dias têm sido curtos para os meus devaneios, bem como para o processamento das minhas eternas querelas psico-afetivas. O tempo, cuja lealdade me era outrora indiscutível, tem deixado a desejar no que tange à sua tão proclamada eficiência...

A cada dia eu me convenço mais e mais de que o Transtorno de Personalidade Anti-Social vem ganhando status epidêmico, e que seus portadores estão cada vez mais entranhados em nossa sociedade, dado o seu altíssimo grau de mimetismo e enorme capacidade de se passarem por sãos. Chego a pensar "naquela história" darwiniana, em se considerando o alto grau de eficiência adaptativa desses espécimes. Atenção redobrada!
Eles estão por toda parte.
Eles.
Os vis.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Sobre a solidão

Pela primeira vez na vida eu me vejo obrigada a me despir do meu manto de auto-suficiência. Eu me achava imune aos efeitos aterradores de um dilaceramento cardíaco. O torturador, "vil operário das ruínas" anda sempre à minha espreita. Incansável.
Hábil e dissimulado, os que pairam ao meu redor nem notam sua presença. Fico me perguntando se me tornei invisível, ou se o vil ofusca as benesses que eu um dia fora capaz de emanar.
Os dias têm seu tempo dilatado. As noites, refúgio do mal-tragar diurno. Meu travesseiro, fiel escudeiro. Só ele me entende, estando sempre de prontidão.
Ao lado agora virou léguas. Onde foram parar todos?
Onde fica esse tal de infinito particular?
Reticências ululantes.
Rombo.
Vazio.
Fim.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Confissões de adolescente

Já se passaram 15 dias de 2007. Planos? Alguns míseros, modestos. Expectativas? Não diria as mais ambiciosas. Resoluções a cumprir? Não, não concederia mais essa frustração pra o meu rol de incomensuráveis incompletudes. Emagrecer? Quem sabe. Até que estou de bem com o "jeito fofinha de ser".
Curiosamente, beirando a maioridade propriamente dita, tenho me pego com alguns caprichos e manias adolescentes. Eu diria até pueris. Tenho escrito diariamente numa agenda verde de joaninhas, flagrado meus pensamentos pairando em ciúmes imbecis dos meus antigos amigos, ido a lugares que me proporcionam nostalgias inúteis de debutante... Minha auto-imagem retomou a crucialidade de outrora, meu cabelo voltou a ser hidratado semanalmente e o otário da última festa nem notou a minha presença. Mas ele que se foda.
Meu torturador está sempre presente, física e metafisicamente. Há quatro meses carrego essa bigorna mental por todo o meu itinerário errante. Porra, meu, será que ele não tem o que fazer?
Talvez meu organismo ainda não seja capaz de sintetizar os metabólitos suficientes à digestão do mundo. É uma empreitada que venho aventando desde o mísero dia em que objetivei "virar gente".
Enquanto espero, adormeço.
Nada como um dia igual ao outro... E igual o outro...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Por que?

Eis que, numa ensolarada tarde de domingo, me deparo com um ímpeto "literário" há tempos arraigado em meu âmago, e devidamente contido por razões que escapam à tangibilidade da sapiência humana. Sempre quis ser autora do que quer que fosse (a única obra que leva o meu nome é um livro chamado "O diário de Renata", escrito do alto dos meus 9 anos) , e o anonimato proporcionado por um blog me pareceu uma idéia bastante sedutora...
Há coisas que escapam incólumes à mediocridade cotidiana. O advento dessa página é uma tentativa de desvencilhamento das nulidades com as quais a vida vem me agraciando há um bom tempo. Talvez um desabafo vazio, um divã metafísico, ou um desaguadouro para as quinquilharias de um relicário velho e gasto, cansado que está de esperar por um exemplar cuja raridade dignifique a sua existência... Enquanto isso, vou curtindo a minha eterna sensação de "dolce-far-niente-constante", esperando a vida me escancarar seus "sine-qua-nons" (ou razões que me justifiquem a existência)...
Declaro-me, assim, mais uma refém da ditadura virtual, inaugurando este espaço pra dividir com sei-lá-quem algumas angústias fúteis/inúteis de uma garota recém-ingressa na era dos "vinte-e-poucos".
Sem mais...